INSTITUTO CULTURAL D. ANTÓNIO FERREIRA GOMES
DIA DO INSTITUTO
6 de junho de 2021
Não sendo possível, na atual situação, realizar a sessão do Dia do Instituto nos termos habituais, comemoramos esse dia, tão só, mas para nós de maneira profundamente simbólica, com a comunicação a toda a comunidade do Instituto de uma referência memorial do Rev.º Cónego Orlando Mota e Costa, presidente da Assembleia Geral do Instituto durante longos anos, e do Ex.mo Senhor Doutor Fernando Aguiar-Branco, membro do Conselho Consultivo, pelo contributo pessoal e institucional que nos dedicaram.
Agradecemos ao Doutor Manuel Correia Fernandes, diretor do jornal diocesano Voz Portucalense, as notas biográficas, de sua autoria, sobre estes dois amigos ilustres do nosso Instituto recentemente falecidos.
Lembrando o Cónego Orlando Mota e Costa
O Cónego Orlando Mota e Costa foi durante muitos anos o Presidente da Assembleia Geral do Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, desde a sua constituição em 1997 para proporcionar fundamentos e aprofundamento nos amplos domínios da cultura, em que, sob a inspiração do seu patrono tem concretizado num projeto muito diversificado de temas de formação.
O Cónego Orlando Mota e Costa faleceu na quarta-feira, 25 de novembro de 2020. Nascido a 24 de março de 1932, na freguesia de Soalhães, Marco de Canaveses, contava 88 anos de idade. Foi ordenado diácono em 10 de outubro de 1954 e presbítero a 31 de julho de 1955, por D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto.
A sua atividade pastoral iniciou-se como vigário cooperador em Leça da Palmeira, tendo desempenhado posteriormente as funções de Assistente Diocesano dos Movimentos da Ação Católica, designadamente os movimentos operários e as Organizações agrárias a nível diocesano, ao longo de 10 anos (de 1960 a 1969).
Em 2 de outubro de1969 foi nomeado pároco de S. Martinho de Cedofeita no Porto, sucedendo a D. Manuel Martins, entretanto nomeado Vigário Geral da Diocese. Foi Vigário da Vara da então Vigararia Porto I, funções que exerceu de 1972-74. Em 1984 foi designado como membro do Conselho Económico da Diocese e em 1996 foi nomeado membro do Cabido Portucalense. Presidiu à paróquia de Cedofeita até julho de 2015. Desde então, como membro da Casa Sacerdotal do Porto, partilhava residência com seu irmão na rua do Breiner. O seu funeral foi celebrado de forma privada na tarde de 26 de novembro, na Igreja de Cedofeita, sob a presidência do Cónego Jorge Teixeira da Cunha, na qualidade de Presidente do Cabido da Sé. Uma celebração exequial foi presidida pelo Bispo D. Manuel Linda na catedral do Porto, na manhã do dia 1 de dezembro de 2020. Foi a sepultar na terra natal da sua família, em Salvador do Monte, no concelho de Marco de Canaveses.
O Cónego Orlando foi uma figura marcante do clero da Diocese do Porto. Entre os dados da sua atividade importa registar, para além da ação como assistente dor organismos da Ação Católica, numa época em que esta organização assumia importante papel interventivo na Igreja e na sociedade, importa registar três: a sua ação na formação do Seminário Maior do Porto, através do acompanhamento de campos de férias organizados para formação dos seminaristas de então, e por diversas palestras formativas e pastorais ao, longo dos anos 60; a relevância da ação pastoral como pároco de Cedofeita, ao longo de 45 anos (de outubro de 1969 a julho de 2015); a intervenção enquanto colaborador sempre ativo nas estruturas de governo da Diocese (Conselho Económico e Cabido Portucalense). O cónego Orlando Mota e Costa foi o primeiro presidente da União das Instituições Particulares de Solidariedade Social em Portugal, eleito na Assembleia Geral de 15 de janeiro de 1981.
Quando se fundou o Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, foi convidado para presidir à sua Assembleia Geral, missão que desempenhou ao longo de muitos anos.
A sua ação como pároco de Cedofeita merece uma menção muito especial: estava lançada a construção da nova igreja, um projeto arquitetónico de grande envergadura, pela sua novidade e pela sua dimensão. Recordo a preocupação que lhe ouvia pelo desenrolar dos trabalhos e respetivo acompanhamento, afirmando que tinha que agir como responsável de construção civil. Concluído o edifício, empenhou-se nos seus acabamentos. Dois elementos se salientam nas suas palavras: referia com entusiasmo a colocação e expressividade dos vitrais, sob orientação de Júlio Resende, exultando com a sua beleza e significado, quando referia que em certos dias eles inundavam de “luz divina” toda a igreja; e a construção do órgão de tubos, da autoria do organeiro suíço Th. Kuhn, que continua a constituir um instrumento de referência na cidade. Em entrevista à Voz Portucalense o P. Orlando considerou que as obras de arte impulsionavam igualmente as tarefas pastorais e socio-caritativas, que constituíram também uma dimensão central da sua ação, designadamente o Centro Paroquial e a construção do Lar de S. Martinho, na rua da Torrinha, inaugurado em 12 de novembro de 2012, dia de S. Martinho, padroeiro da paróquia.
A força da idade e as incidências da sua saúde, tornada frágil, determinaram o seu afastamento, mas não a sua afeição à paróquia de Cedofeita. Por esta razão, tem um sentido profundo o facto de ali se ter realizado, ainda que de forma privada, a sua memória fúnebre, com a participação de vários sacerdotes ligados ao âmbito paroquial (padres franciscanos, igreja da Lapa) e à vigararia do Porto Poente.
A continuidade da sua obra está a cargo do P. Fernando Silva, com o restauro e valorização do interior da igreja, expressa nas palavras que proferiu na celebração, recordando a mensagem do Papa Francisco ao afirmar que “podemos comparar os santos com os vitrais das igrejas “que fazem entrar a luz em várias tonalidades de cor”, como “irmãos e irmãs que receberam a luz de Deus no seu coração e a transmitiram ao mundo, cada qual segundo a sua tonalidade”.
A riqueza estética e simbólica que marcava a sensibilidade pastoral do P. Orlando foi recordada nas suas próprias palavras: “Os vitrais integram-se nas linhas dinâmicas da arquitetura do espaço interior: convergência e ascensão. Pintura abstrata, de traço longo e fugidio, mas sugerindo uma temática: da noite para o dia, da criação para a Ressurreição. Policromia que se difunde em reflexos sempre surpreendentes ao longo do dia e do ano, conforme a posição do sol, até que no solstício de Inverno, ao meio-dia, projeta um marcado arco-íris que atravessa a escultura de Cristo Ressuscitado, descendo até ao Presbitério”.
Sobre a sua atividade no domínio da pastoral social, importa reter as palavras de Lino Maia, que o considera “inspirador e seu primeiro presidente”, sentindo a necessidade de criar uma estrutura que congregasse as entidades que sentiam e realizavam as mesmas preocupações sociais e assim nasceu a União das Instituições Particulares de Solidariedade Social.
Vemos assim como a ação do Cónego Orlando Mota e Costa se alargou por tantas atividades em que deixou a sua marca pastoral. Por isso merece reconhecimento e gratidão.
Memória de Fernando Aguiar-Branco
Fernando Aguiar-Branco foi membro do Conselho Consultivo do Instituto D. António Ferreira Gomes.
Fernando Aguiar-Branco faleceu na quinta feira, 28 de janeiro de 2021. Nascido a 27 de maio de 1923, contava 97 anos de idade. Era natural de Coimbra, mas foi na cidade do Porto que veio a fundar a sociedade Aguiar-Branco & Associados, nos anos 80 do séc. XX. Exerceu múltiplas atividades no quadro da sociedade portuense e nacional, tendo sido vereador da Câmara do Porto, e deputado à Assembleia Nacional, eleito como independente nas listas da Ação Nacional Popular e presidiu ao Conselho Distrital do Porto da Ordem dos Advogados.
Participou também na ação política democrática, mesmo nos últimos tempos.
Pela sua ação cívica e de homem de leis, foi Doutor honoris causa em Filosofia, pela Universidade de Coimbra, e tornou-se Presidente vitalício, desde 1973, do Conselho de Administração da Fundação Eng.º. António de Almeida, que tem desempenhado papel relevante na valorização cultural da cidade do Porto, onde tem a sua sede, e foi também conselheiro
da Fundação Mário Soares, desde 1996. Foi designado Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, e titular da Medalha de Ouro da Ordem dos Advogados, além de outras distinções.
Fernando Aguiar-Branco era pai de quatro filhos, um dos quais, José Pedro Aguiar-Branco, foi ministro da Justiça e da Defesa dos governos chefiados por Pedro Passos Coelho. Foi um dos promotores da homenagem nacional a D. António Ferreira Gomes, no segundo aniversário do seu falecimento, em 13 de abril de 1991, com sessão solene presidida pelo Presidente Mário Soares, no Palácio da Bolsa, e apoiou a construção da estátua deste Bispo junto à Torre dos Clérigos, cuja inauguração contou com a presença do Patriarca de Lisboa, António Ribeiro, do Arcebispo-Bispo do Porto, D. Júlio Tavares Rebimbas e de D. Manuel Martins, Bispo de Setúbal.
A sua ação e cultural traduziu-se, para além de numerosas iniciativas, como colóquios e conferências sobre pensadores, artistas e escritores, bem como na publicação e oferta através pela Fundação Eng. António de Almeida de obras de grande valor patrimonial e cultural, como a Revista Estudos, dedicada a Guilherme Braga da Cruz, bem como as Memórias da inauguração da Sala de Leitura dos Manuscritos e Obras Raras da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, cuja requalificação foi patrocinada pela
Fundação a que presidia.
Em 20 de julho de 1973, na inauguração da sede da Fundação Eng. António de Almeida, Aguiar-Branco com D. António Ferreira Gomes e o Governador Civil do Porto Paulo Durão
Na homenagem Nacional a D. António Ferreira Gomes, no segundo aniversário do seu falecimento a 13 de abril de 1991, com a sessão solene na Bolsa do Porto, presidida pelo Presidente da República Mário Soares e a inauguração da estátua junto à Torre dos Clérigos.
Nesta imagem Fernando Aguiar-Branco com D. António Ribeiro, Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Júlio Tavares Rebimbas, Arcebispo Bispo do Porto e D. Manuel Martins, Bispo de Setúbal.
Manuel Correia Fernandes
(Diretor da Voz Portucalense)